Rio de Janeiro, 11 de dezembro de 2009.
Exma. Sra. Tereza Porto, Secretária de Educação do Estado do Rio de Janeiro,
Exmo. Dr. Paulo de Alcântara, Presidente do Conselho Estadual de Educação do Rio de Janeiro,
Exmo. Sr. Presidente da FESP-RJ:
Na qualidade de membros da diretoria da Associação de Professores de Espanhol do Rio de Janeiro – Apeerj e, principalmente, como professores de Língua Espanhola que atuam nos diversos níveis e segmentos, sentimo-nos obrigados a questionar os exames de seleção de Professores de Língua Espanhola, realizados no Estado do Rio de Janeiro, que a nosso ver não estão de acordo com um perfil de professor esperado para atuar na rede pública segundo os documentos que regem a educação nacional, os Parâmetros Curriculares Nacionais e as Orientações Curriculares para o Ensino Médio.
Com base em pesquisas recentes na área das Ciências da Linguagem, verificamos que as provas de Língua Espanhola, aplicadas nos últimos concursos, vêm apresentando diversos problemas que, elencamos a seguir.
Primeiramente, os exames não se encontram em consonância com o perfil de docente delineado pelos referidos documentos norteadores para a educação brasileira. Tais documentos, resultantes de pesquisas atuais na área, privilegiam um ensino de língua estrangeira focado no desenvolvimento de competências produtivas e reflexivas na língua alvo e a formação crítica do aluno como cidadão. Em contrapartida, as provas aplicadas se limitam a aferir se o futuro docente tem conhecimento de saberes meramente sistêmicos, descontextualizados, fruto de simples repetição irrefletida do que está nas gramáticas e dicionários.
Se já não fosse o bastante, tais obras - que, a nosso ver, sequer deveriam constar das sugestões bibliográficas do concurso, por se tratarem de obras de consulta - são tomadas nas provas como única fonte de conhecimentos sobre a língua, que aqui é entendida, ingenuamente, como um bloco homogêneo, contrariando toda a produção acadêmica atual sobre o tema, uma vez que há muito já se sabe que qualquer língua somente existe na diversidade dos usos concretos realizados por seus falantes nas diversas situações de comunicação. Em especial, a língua espanhola é falada por povos com características culturais e lingüísticas próprias.
Assim merece destaque o fato de que no item sugestões bibliográficas dos últimos concursos, em lugar de obras que tratem da formação docente em seu sentido mais amplo, e especificamente do ensino de espanhol como língua estrangeira, encontremos quase que unicamente os já referidos dicionários e gramáticas. Questionamo-nos que saberes se espera deste professor: Que saiba todos os verbetes dos diversos dicionários listados? Que se prepare para os exames a partir dessas leituras?
Outro grave problema que precisa ser revisto é a total desvinculação do exame à realidade da escola pública em nosso estado. Não se consideram aspectos fundamentais tais como quem é esse aluno, o que se pretende com o ensino dessa língua e o que é efetivamente possível fazer. A prova privilegia saberes teóricos em uma perspectiva questionável como exposto acima, e não focaliza aqueles saberes relativos à prática do ensino de uma língua estrangeira. O conhecimento específico limita-se a conhecer uma descrição da língua entendida enquanto um sistema homogêneo. Tal exame não se diferencia do que poderia ser uma prova para cargos de outra natureza que não o de professor e ignora saberes que constituem o cerne da formação universitária docente nos dias atuais. A quase integralidade da prova se constitui de questões de vocabulário e de gramática normativa.
Ainda que a banca não seja de conhecimento público, parece-nos possível supor que esta não deve ser constituída por docentes que estejam em atuação na rede estadual ou nas universidades públicas, mas sim por professores desvinculados tanto da prática quanto da teoria que hoje se desenvolve nos âmbitos relativos ao ensino de espanhol no Brasil.
Luciana Maria Almeida de Freitas
Diretora-Presidente da Apeerj
Biênio 2008-2010
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